Notícia - Ele trabalhou na roça, foi gari e hoje é sócio de uma imobiliária que bateu R$ 34 milhões em vendas21/10/2025
Ele trabalhou na roça, foi gari e hoje é sócio de uma imobiliária que bateu R$ 34 milhões em vendas
Antônio Carlos Gordiano deixou o interior de Minas Gerais em busca de uma vida melhor, passando por altos e baixos.
Das tantas vidas que Antônio Carlos Gordiano viveu nesta vida, talvez a infância seja a que mais lhe tenha deixado marcas. Ao contar sua história em palestras, porém, as pessoas costumam cravar os olhos nele no momento em que ele conta já ter trabalhado como gari, sendo que hoje é um dos sócios da imobiliária My Broker em João Pessoa, na Paraíba.
“‘O Antônio que era coletor de lixo e hoje é sócio de uma das maiores imobiliárias do País. O cara que era um gari, coletava lixo na rua, hoje está faturando milhões aí com a empresa. É isso que chama atenção. Só que o gari, para mim, não era nada. Não era nada comparado ao trabalho que fazíamos lá na roça”, diz.
Ele se refere à infância na pequena cidade de São Miguel do Anta, em Minas Gerais, onde viveu até os 15 anos com os pais e os ajudava nas tarefas no campo. Depois disso, foi para Uberlândia, onde teve as primeiras experiências profissionais até chegar ao convite de se tornar sócio da imobiliária.
Não é que o trabalho como gari fosse fácil, longe disso, mas “o bicho pegava” na roça, conta Antônio Carlos. Além disso, ser coletor de lixo lhe dava carteira assinada e um bom salário, e, no início, foi visto por ele como uma oportunidade. Até que veio o cansaço, os ferimentos constantes e a vontade de encontrar outro caminho.
“A gente corria 35 quilômetros por dia. Nós carregávamos cerca de 18 toneladas no braço todos os dias. Era eu e mais três colegas”, conta. “Eu cortei uma vez a perna, com um caco de vidro, que estava numa sacolinha. E foi muito fundo, eu fiquei meio preocupado. Me furei umas três vezes com seringa”, relembra Antônio Carlos.
Foi então que ele decidiu entrar em um curso técnico de enfermagem --que não chegou a concluir, mas deu início a um novo capítulo de sua vida. Depois de ser demitido ao se negar a sair para coletar lixo sem ter recebido o café da manhã da empresa, o recomeço foi como cuidador de idosos.
Mas com a morte de alguns pacientes, mais uma vez veio uma fase ruim, com Antônio passando a se sentir deprimido. “Do jeito que eu estava na depressão e bebendo daquele jeito, eu ia virar um morador de rua”, conta. Ele diz que pediu orientação a Deus e encontrou um anúncio para ser captador de imóveis.
Esse profissional é o responsável por buscar imóveis para alugar ou vender, e não precisa de formação específica para atuar. Depois de um tempo trabalhando em uma imobiliária nessa função, uma colega o chamou para tentar um emprego como corretor de imóveis em uma outra empresa.
Antônio Carlos conta que fez supletivo para suprir a falta de ter completado o Ensino Médio na idade regular e depois fez um curso para se tornar corretor de imóveis. Ele se lembra de ter feito a formação pelo celular, pois ainda estava aprendendo a mexer em um computador, que hoje já domina.
Ascensão no mercado imobiliário
A primeira venda demorou três meses para acontecer. Mas, depois, foi acontecendo uma atrás da outra. “Fui considerado um dos melhores corretores de imóveis da cidade de Uberlândia”, conta. Aí, veio o convite para trabalhar como corretor de imóveis na unidade da My Broker da cidade mineira.
Antônio Carlos diz que foi na empresa que aprendeu a ser um bom corretor, mesmo com a experiência que já tinha tido antes em outra imobiliária, porque lá passou a enxergar possibilidades de sucesso na vida.
“Entrei como corretor, tive bons resultados como corretor. E aqui tem um plano de carreira. Se você for um bom corretor de imóveis, tiver postura, posicionamento, você pode ser um gerente. E aí eu me tornei gerente, tive bons resultados como gerente, bons resultados mesmo. A gente vendia sempre de R$ 8 a R$ 9 milhões por mês. E aí eu tive uma oportunidade, eles falaram: ‘Antônio, tem uma praça que nós estamos querendo abrir e a gente queria você como sócio nosso’”, conta.
No último mês, Antônio conta que a filial da imobiliária gerida por ele em João Pessoa faturou R$ 34 milhões. “É um número, assim, surreal. Que eu não imaginava que com tão pouco tempo, tem cinco anos que eu estou na empresa, com tão pouco tempo, isso poderia fazer com que a minha vida tivesse sido transformada, a vida das minhas filhas também, e ajudar minha mãe”, afirma.
Até para ele próprio se acostumar com as altas cifras foi difícil no início. Mais uma vez, a infância vem à tona, e ele se lembra da relação que os pais tinham com dinheiro. Naquele cenário de pobreza, ser ambicioso não era visto como coisa boa.
A história de Antônio Carlos Gordiano tem mais uma peculiaridade: seu sobrenome já ficou conhecido antes, acompanhando o nome de Madalena, uma mulher que foi resgatada em situações análogas à escravidão por uma família que a tinha como empregada doméstica. Antônio é sobrinho dela.
Ele confessa que não tinha muita proximidade com ela, a quem via pouco. A família também nunca chegou a pensar que a mulher poderia estar sendo vítima de um crime. “Para nós, era normal. Ela tinha um teto e se alimentava. Nós ganhávamos R$ 5 por dia para trabalhar, não sabíamos dessa situação.”
Agora, ele sente que quebrou um ciclo. “Toda casa tem alguém que nasceu para cuidar dos seus familiares. Toda casa tem alguém que nasceu para romper as barreiras. E se a gente souber aproveitar as oportunidades que nós temos, não importa de onde você veio, não importa o histórico da sua família, não importa a cor da sua pele, o que importa é o que você vai fazer com o conhecimento adquirido”, defende Antônio Carlos.
SIEMACO SOROCABA / SALTO - Sindicato Específico dos Empregados nas
Empresas de Limpeza Urbana, Áreas Verdes, Limpeza e Conservação